sábado, maio 06, 2006

As sementes Terminator
No COP8/MOP3, realizado em Curitiba de 13 a 31 de março, ficou estabelecida a moratória para a comercialização e os testes de campo das tecnologias de restrição de uso genético - Gurt (Genetic Use Restriction Technology), que inclui a tecnologia Terminator, ou a produção de sementes estéreis na segunda geração, das quais são excluídas algumas funções vitais.
Históricamente os agricultores reproduzem suas próprias sementes quando o tipo de cultivo lhes permite. Deste modo, foram adaptando, ao longo de centenas de anos, milhares de cultivos a inumeráveis situações geográficas, climáticas e culturais. Isto tem significado o livre fluxo de sementes, saberes e criações mútuas. Este livre fluxo estaria sériamente ameaçado caso a moratória para o uso da tecnologia Terminator fosse suspenso. A semente Terminator é uma construção genética de reação em cadeia, ela pode cruzar-se com outras sementes, mas caso entrem em contato com um detonante químico o componente Terminator é ativado, tornando-as estéreis. Este fenômeno atingirá todas as sementes resultantes de cruzamentos anteriores.O
detonante químico encontra-se nos herbicidas e nos fertilizantes.
Apenas 4 empresas detêm 86% das patentes sobre variantes da tecnologia Terminator. Rompida a moratória, estima-se que em pouco tempo toda a produção de sementes passará a incorporar esta tecnologia, como também é estimado um impacto considerável no custo da produção agrícola.
Estas sementes incluem a soja, o milho, o algodão e outras cujo uso ainda não é extensivo no Brasil. O impacto nos custos se dará não apenas nos produtos alimentícios a base de soja e milho e em razões animais, atingirá tambem a questão energética.
A soja avança sobre a floresta amazônica, após ter tomado praticamente todo o cerrado do centro oeste brasileiro, em função de um consumo crescente e que deverá aumentar na medida em que a soja se torne matéria prima para o biodiesel. O milho, matéria prima do etanol, igualmente será atingido.
O aumento do custo de produção resultante do uso de sementes Terminator abre uma interrogação sobre a viabilidade econômoca de seu uso para a produção de combustíveis
líguidos.
Se 4 empresas dominam 86% das patentes GURTs apenas 3 controlam o mercado interno da soja no Brasil, a cadeia do milho é um pouco maior. As perspectivas do milho e da soja no Brasil não são portanto muito alvissareiras.
A se confirmar o cenário de quebra da moratória das GURTs, o produtor estará na dependência de 4 fornecedores de sementes e de 3 compradores, que dominarão todo o ciclo produtivo da soja e do milho, embora o Brasil utilize o alcool e não o etanol como combustível.
Neste cenário o biodiesel a partir da soja não será um alternativa, mesmo que o consumo de energia para a sua produção venha a torna-lo viável.
O gás natural como fonte de energia permanece ainda como uma das únicas alternativas disponíveis a custos competitivos. O petróleo e a água para produção de eletricidade são as outras duas.