quarta-feira, maio 17, 2006

O Gás Boliviano

...e as vantagens competitivas.

Muito se escreve e pouco se diz sobre a questão do gás boliviano. A ser discutido não é o direito do povo boliviano controlar as suas riquezas naturais e, muito menos, o propalado descumprimento de contratos, acordos ou que nome tenham. Importa menos ainda saber porque a Bolívia nacionalizou o seu petróleo e gás.
Informações provenientes de diversas fontes sugerem que a Petrobras paga pelo gás o preço de US$ 3,38 p/BTU - British Thermal Unit. No mundo do petróleo, em todos os mercados, o gás esta vinculado ao petróleo, incluindo aí o preço de ambos, e não há como desvincular um do outro.
Os, agora revelados, ainda que de forma imprecisa, investimentos da Petrobras, na exploração de petróleo e gás, refino do primeiro e transporte do segundo, não serão aceitos em nenhum tribunal do mundo, fala-se em Nova York, pela razão de nunca terem sido auditados e, em momento algum, colocados em discussão, nem antes dos acordos e contratos serem assinados e muito menos depois.
O que se coloca, ou deveria ser colocado, são as vantagens competitivas em jogo. Para o futuro, já que o passado, de ambos os lados, não é promissor para uma solução que alcance o equilíbrio entre a ponta vendedora, a Bolívia, e a ponta compradora, o Brasil.Esse equilíbrio é fundamental.
O que se conhece, e tudo o que se sabe, indica que nenhum dos combustíveis alternativos, alcool, etanol, biodiesel e outros, são substitutos de fato para o petróleo e o gás natural. Com o agravante que mesmo o gás natural não é substituto do petróleo em todos os seus usos.
Não se trata aqui apenas de impulsionar automóveis. O gás natural é fonte de energia para operações industriais, muitas de grande envergadura. O petróleo, em alta continuada, não sinaliza qualquer estabilização de preços. A demanda não é estável, é crescente.
No momento, e essa é a vantagem da Bolívia, o Brasil dispõe de reservas de gás na bacia de Campos, já em exploração, e na bacia de Santos, com exploração prevista para três anos, numa projeção otimista, mas não provável.
A plena operação de Santos resultará em um gás a preços internacionais na "boca do poço", devido aos muitos compromissos da Petrobras em níveis, também, internacionais. Desses preços o Brasil não escapa.
A bacia de Santos não será um substituto pleno à Bolívia, somente o será com graves prejuízos para a indústria brasileira. Essa é a condição a ser convertida em vantagem competitiva pelo Brasil.
Na ausência de uma política nacional de energia é mais conveniente e seguro optar por duas fontes de suprimento. Daí porque é pouco consistente as manifestaçõoes de apoio a eventuais medidas de força a serem tomadas contra a Bolívia, o que resultará, de fato, em abrir mão da enorme vantagem competitiva detida pelo Brasil, de ser o maior consumidor no presente e no futuro. É conveniente não esquecer que o poder de compra pode ser maior que o poder de venda. Independente de ter ou não uma política nacional de energia.
O gás da Venezuela, além de ser mais caro que o da Bolívia, e certamente o será, estará disponível, se vier a estar, em um futuro incerto e não sabido.