sexta-feira, maio 12, 2006

De Plotino a Maquiavel

Dos Fundamentos aos Feitos

É conveniente compreender as dessemelhanças entre as origens e os fundamentos.
Segundo Plotino "A razão contempla a sua origem, não por estar separada dela, mas porque vem logo em seguida e nada existe entre ambas".
Já Maquiavel, em O Príncipe (Capítulo XVII, 4), referindo-se a Aníbal, comenta; "...lhe admiram os feitos, e condenam de outra seu fundamento". No caso de Aníbal o fundamento principal, na avaliação de Maquiavel, era a sua desumana crueldade; o feito , suas vitórias.
Plotino e Maquiavel nos levam aos partidos políticos hoje dominantes na cena brasileira. Ocorre aqui uma disputa entre o povo e os grandes. Maquiavel escreveu: "... porque, se se apercebem os grandes de não poderem resistir ao povo, prestigiam um dos seus, para, à sua sombra, satisfazer a sua sêde de dominio. Por outro lado, o povo, quando sente não lhe ser possível resistir aos grandes, procura prestigiar determinado cidadão, e fá-lo príncipe, para por sua autoridade ver-se defendido" (Capítulo IX, 2).
Quanto aos dois partidos políticos em disputa , há aqui algo relevante. Embora de origens distintas (e completamente distintos entre sí), buscam os mesmos feitos e partem dos mesmos fundamentos. Aqui há uma dessemelhança aparente entre a origem e o fundamento.
Ainda segundo Maquiavel (Capítulo IX, 3) "... porque o objetivo do povo é mais honesto que o dos grandes, querendo êstes oprimir e aquêle não ser oprimido".
Eis aqui a questão. Não há distinção entre os objetivos de ambos, coexistem no mesmo sistema político (de modo algum o renegam), disputam o poder seguindo as mesmas regras estabelecidas (nenhum dos dois as violam ou pretendem mudá-las), e valem-se da mesma metodologia ideológica (econômica). O regime de votos tem os vícios instituídos por todos os participantes, sem exceção.
Se Plotino estiver certo, nenhuma mudança é de se esperar após as eleições gerais marcadas para outubro próximo. Se quem estiver certo for Maquiavel alguma mudança deverá ocorrer.
Como a história tem demonstrado que ambos estão sempre certos, é de se esperar que a mudança se dê na origem, que, aqui sim, são semelhantes aos fundamentos. É quase certo que o partido político atualmente no poder, aí venha a conservar-se, mas, o que no Brasil é genéricamente conhecido como "instituições democráticas", deverá sofrer a sua primeira mudança, cuja origem remonta a 1532, quando foram criadas as Capitanias Hereditárias, regime político que embora adaptado às condições econômicas e, eventualmente, políticas, permanece essencialmente o mesmo.
No Brasil de hoje uma nova sociedade encontra-se em formação, gerando uma nação que o IBGE não conhece e a Secretaria da Receita Federal não sabe onde fica. Neste novo Brasil os fundamentos confundem-se com as origem, estranhamente iguais. A mudança virá, se não em outubro próximo, virá em um futuro não muito distante.