sábado, julho 08, 2006

Produção de Biodiesel e Projetos do MDL

Muita atenção tem sido dada à produção do biodiesel. Novas oportunidades no âmbito do mercado externo, o conseqüente aumento das exportações, a menor dependência do petróleo, o incremento na renda familiar, o domínio de uma tecnologia sobre novas fontes de energia, são alguns dos itens referenciados em diversos ambientes. A questão, de um ponto de vista exclusivamente agrícola, demanda o desenvolvimento de novas variedades de sementes, fertilizantes e defensivos às plantas daninhas. Quanto aos equipamentos industriais para a produção do óleo, é necessário o seu aperfeiçoamento. No entanto, pouco se comenta a respeito da energia necessária ao uso de tais equipamentos.
Experiências levadas a cabo pela EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisas Agrícola, visando a avaliação do uso da mamona para a produção do biodiesel e geração de energia elétrica, indicam ser o produto perfeitamente viável, desde que sejam aperfeiçoados os equipamentos, de modo a permitir um melhor aproveitamento das sementes da mamona na geração do óleo. No caso da mamona, a operação de descasque, se feita manualmente, demandaria uma enorme mobilização de mão de obra, recomendando-se que seja feito o beneficiamento mecânico, de modo a conseguir um aproveitamento superior a 60%. A quantidade de óleo contido nas sementes da mamona é da ordem de 47%. É possível, segundo a Embrapa, utilizar o óleo da mamona in natura para a geração da energia elétrica necessária ao uso dos equipamentos. Aqui é necessário melhorar o rendimento , tanto do óleo como das máquinas, uma vez que a energia consumida / energia produzida é da ordem de 1,39, ou seja, 39% a mais de energia consumida para a mesma quantidade equivalente produzida. Mas não é este o problema. Para reduzir a viscosidade do óleo e melhorar sua qualidade é necessário aquecer as sementes de mamona antes da prensagem. O uso da energia elétrica para isso eleva demasiadamente o custo da operação. Mesmo que a energia seja produzida a partir do óleo in natura nas atuais condições de aproveitamento. O risco e o verdadeiro problema é o uso da lenha para conseguir o aquecimento necessário.
A mamona é bastante sensível ao encharcamento do solo e seu plantio deve ser feito em altitudes na faixa dos 300 metros. As chuvas ocasionam perdas da área plantada. São fatos que induzem ao desmatamento, mesmo no semi-árido. Além disto, as linhas de plantio devem ter um espaçamento de 2 a 3 metros.
No nordeste o foco é a agricultura familiar em propriedades de até quatro módulos fiscais (ver postagem anterior), o que requer mais de um produtor para a aquisição, uso e manutenção dos equipamentos de produção de óleo. Esta seria mais uma utilidade para a lenha, já amplamente utilizada na Caatinga e já uma das principais ameaças a este ecossistema.
O plantio da mamona pode ser objeto de projetos do Mecanismpo de Desenvolvimento Limpo, propiciando uma renda adicional advinda dos Certificados de Redução de Emissões, que seriam emitidos por cada um dos projetos aprovados. Mas sem o uso da lenha.
A Embrapa dispõe de meios e tecnologia sufucientes para determinar as "Linhas de Base" de cada projeto, bem como a quantidade de carbono qua seria sequestrada e que resultaria nos CREs.
A preservação do ecossistema Caatinga é importante demais para ser deixada de lado. Principalmente por se tratar de um dos mais rentáveis, em que pese o desconhecimento oficial e a pouca atenção com que tem sido tratado. É rico em matérias-prima para a indistria de cosméticos e de medicamentos, bem como indispensável para o próprio controle do aquecimento da Terra e da mudança do clima. A desertificação da Caatinga trará graves prejuízos, não apenas para o nordeste.