quarta-feira, janeiro 03, 2007

2007 e suas Perspectivas

Quanto ao possível desempenho da economia brasileira o mais provável é um resultado inferior àquele de 2006.
O ano começa com um equívoco, como o início de um novo governo.
A reeleição é apenas a continuidade do mesmo governo, o que se constata pelas férias do Presidente e de vários de seus Ministros. Senadores e Deputados, grande parte dos funcionários públicos dos três poderes e quase toda a atividade acadêmica, também gozam do descanso anual. A eleição dos presidentes da Cãmara dos Deputados e do Sanado, a cada dois anos, paraliza os trabalhos legislativos muito além do tradicional recesso parlamentar. Dos doze meses do ano, dois estão perdidos.
O Orçamento para 2007, aprovado no mês de dezembro, não indica que será efetivamente cumprido, já que restam a pagar do orçamento anterior pouco mais de R$17 bilhões, relativos a investimentos feitos em 2006. Admitindo-se que representem contratos de serviços (execução de obras) não é crível que os prestadores desses serviços venham a desistir de novas contratações, ao contrário, o mais provável é que venham a insistir em novos contratos ou em aditamentos aos antigos. A parcela a receber será repassada aos novos preços o que resultará na distorção dos valores a serem investidos em 2007. O que for pago "dos restos a pagar", diretamente ou via repasse a novos contratos, não provocará nenhum incremento no meio circulante, o que significa que a quantidade de dinheiro em circulação não aumentará. É esse aumento que faz a economia crescer.
Os meses de janeiro e fevereiro, incluído o Carnaval, período de férias, se reduzem a atividade em certos segmentos da economia nos setores de serviços ligados ao turismo são meses de intensa atividade, o que provoca uma irrigação monetária em grandes regiões do Brasil, como o Nordeste, a Amazônia e o Pantanal. Essa irrigação, e o aumento da circulação monetária dela resultante, estimula a atividade econômica em todo o país.
Em 2007, isso não deverá ocorrer de modo amplo em função do colapso da aviação civil e da degradação da malha aérea da VARIG. A inoperância das empresas concorrentes e a falta de estrutura e visão estratégica da ANAC, resultaram no cancelamento de uma considerável quantidade de "pacotes turísticos" e/ou no "encalhe" de outra considerável quantidade. A paralização da VARIG para viagens ao exterior e a pouca expressão de suas concorrentes nacionais nesse segmento, transferiu para empresas estrangeiras a quase totalidade do movimento. Empresas estrangeiras de aviação não empregam no Brasil, não pagam impostos no Brasil, não possuem fornecedores no Brasil. O valor gasto com passagens nessas companhias, na realidade reduzem a circulação monetária interna. Turistas estrangeiros compram passagens e "pacotes" nos seus países de origem, hospedam-se em hotéis de propriedade de redes internacionais, movimentam internamente, no Brasil, o que é conhecido como "economia informal", sobre a qual, embora nacional, pouco se sabe no Brasil.
O aumento do salário mínimo, para R$380,00, é muito pouco para provocar grandes estímulos ao consumo e não deverá ser acompanhado de igual percentual para as aposentadorias. Por outro lado, a maior parte do consumo de 2006 foi feita mediante pagamento parcelado através de cartões de crédito, cujo custo para o usuário é substancialmente elevado, e necessáriamente terá que ser pago.
O aumento dos gastos do governo, que se faz de forma desordenada, não provocará nenhum incremento mensurável na atividade econômica, já que vem em seguida a uma campanha eletoral que, se não custou a mesma coisa não deve ter sido muito diferente, no cômputo geral é uma pela outra.
Os preços do álcool combustível deverão entrar em curva ascendente nos primeiros dias de janeiro, aproveitando o aumento das viagens de automóveis resultante da redução na demanda por transporte aéreo. Esse aumento não deverá ser compensado pela redução do preço da gasolina, o que significa uma redução no consumo de bens e serviços. O aumento dos lucros das usinas de álcool beneficia pessoas cuja faixa de renda tem como característica o consumo inelástico.
Como não há nenhuma política de preços para os combustíveis, nada indica uma reversão nessa tendência.
O crescimento do PIB brasileiro em 2006 será pouco superior a 2,5%, tendo sido o ano bastante favorável. Em 2007 deverá ficar entre 1,7% e 2%.