sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Fórum Econômico Mundial - Davos - 24/28 de Janeiro de 2007

Voltada para as estruturas do poder, não mais apenas o seu exercício, mas um compartilhamento impreciso e inevitável, reuniu-se a congregação mundial dos representantes do capital e seus interesses.
Criado em 1971 como uma "fundação", o Fórum Econômico Mundial é um organização internacional independente, comprometida com o objetivo de melhorar o mundo através da participação de seus líderes na modelagem de uma agenda global.
Seu fundador, Karl M. Schwab, é um homem de visão. Em 1970, os EUA atingia o "pico do petróleo", anteriormente previsto pelo geofísico M.K. Hubbert, e tornava-se o maior importador de petróleo do mundo, o que levaria a uma década conturbada por sucessivas crises e pela entrada em cena da OPEP como um dos principais atores internacionais. Fora criada em 1960 como resposta aos baixos preços do petróleo, estabelecidos unilateralmente pelas grandes companhias exploradoras e distribuidoras. Em 1973/74 e 1979 os preços foram substancialmente aumentados e os países produtores conseguiram maior participação e controle sobre a exploração em seus territórios. O FEM encontrava-se preparado para esses eventos.
Em 1972, em Estocolmo, Suécia, a ONU organizava a I Conferência sobre o Meio Ambiente, o que não despertou maiores interesses. Em 1992, no Rio de Janeiro, Brasil, realizou-se a ECO-92, quando foi assinado o tratado "Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática", e o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável entravam na ordem dos assuntos a serem tratados com seriedade. Em 1997 foi conseguido o Protocolo de Quioto, que entraria em vigor em 2005. Antes disso, os EUA haviam se retirado do Protocolo que não despertara até então a atenção dos membros da congregação do capital. O FEM não manifestara ser a proteção do meio ambiente tema próprio para a mobilização de seus associados. O FEM antecipou-se às altas do petróleo, mas não parece ter tido interesse pelo aquecimento da Terra. Pesquisa recente, realizada pela PriceWaterhouseCoopers entre as grandes corporações com atuação mundial, revelou que 31% não estava interessada no assunto.
O problema já não pode ser ignorado e sua solução, se ainda for possível, requer um envolvimento global.
Em 1999, a Conferência Ministerial da OMC em Seattle, EUA, foi levada ao fracasso pela ação coordenada de um grupo de ONGs que não aceita a globalização e a financeirização das relações humanas. Ao contrário do passado essa ação surge desvinculada de movimentos políticos classificados, genericamente, como "de esquerda", o que ficou demonstrado no Fórum Social Mundial realizado poucos dias antes do início da reunião em Davos, e deve mover-se para uma atuação profissional não ideológica. Isso atinge o FEM e seu objetivo, daí o seu interesse por mudanças na equação do poder. Capazes de parar um Ministerial da OMC e de determinar uma agenda para a Rodada de Doha - iniciada após a Ministerial de 2001 realizada na cidade do mesmo nome, já paralizada por diferenças de fundamento entre UE e EUA, a sociedade civil representada pelas ONGs conquista o seu lugar como desafiante da ordem mundial, da qual o FEM é a expressão. E isso é um problema.
A globalização e a ideologia do neo-liberalismo, que busca entre outras coisas apropriar-se dos serviços públicos para sua exploração comercial, resultou no acerbamento do individualismo e do tribalismo nas relações sociais, o que provoca agora, nas palavras de K.M. Schwab, a necessidade de "proteger o coletivo do individualismo".
Estando o mundo ameaçado pela mudança do clima, somente o entendimento comum poderá levar ao enfrentamento do problema. A natureza não respeita fronteiras nacionais, não reconhece foros jurídicos onde contratos possam ser discutidos, não reconhece nem mesmo os contratos. Os desequilíbrios regionais de renda, de educação e de saúde agravam o desequilíbrio global e é em busca de equilíbrio que o FEM parece se mover. O consumismo exagerado, as crescentes desigualdades sociais e a instabilidade política e econômica do mundo requerem a tomada de consciência dos limites a que os sistemas internacionalmente estão submetidos. Como não parece provável que as forças que se aglutinam no Fórum Social Mundial, que foi criado para se opor ao Fórum Econômico Mundial, possam ser contidas ou mais desarticuladas do que já estão - e ainda assim conseguem o que conseguem, o melhor é encontrar um caminho que possa ser comum a todos. É o que se pode concluir dos FSM e FEM recentemente encerrados.