terça-feira, janeiro 31, 2006

Os donos do poder
Os donos do poder, a mídia e o PT.

Vantagem competitiva é vantagem competitiva, desvantagem é desvantagem. Analisando a desvantagem competitiva do PT, como vem sendo colocada, é possível identificar as suas origens e os seus desdobramentos.
I – Capitanias Hereditárias
Primeira experiência neoliberal de que se tem noticia no mundo ocidental, pretendia reduzir a participação do Reino de Portugal no processo exploratório da colônia que se colocava diante de Portugal. Caberia ao governo, o Reino de Portugal, os custos com a manutenção, e para a manutenção, da colônia, ficando os lucros da exploração para uns poucos senhores, donos por si e por seus sucessores, que se apropriariam de todas as riquezas que por ventura viessem a ser descobertas. Deveriam pagar ao estado apenas uma parcela, pequena, dos ganhos obtidos. Ouro era a única coisa que interessava ao Reino, já comprometido naquela época com substanciosa divida externa. Como o ouro só viria a ser encontrado algum tempo depois, ficou a colônia entregue à iniciativa privada.
Procurou Portugal à época transferir para a colônia aqueles que, por razões diversas, viessem a ser condenados pela justiça. Razão para semelhante providência: reduzir os custos para o estado com a manutenção daqueles prisioneiros. É certo que muitos foram condenados sem a correspondente justiça, mas igualmente é certo que para outros o degredo era certamente uma pena leve, e foram esses que introduziram na colônia a mais abjeta das explorações capitalista: o tráfico de escravos. Iniciado o negócio, era necessário encontrar a utilidade para o bem econômico e seu modo de produção.
Inicia-se ali o primeiro grande agro-negócio do mundo ocidental: a cana de açúcar, que pode ser conhecida em detalhes na leitura de “A Formação Econômica do Brasil” de Celso Furtado. A abundância de terra compensava qualquer ineficiência em que viessem incorrer os senhores “capitães hereditários”.Também a cobiça internacional viria a dar a sua parte na formação política do Brasil.
A história do Brasil, a história oficial, relata o que se tornou conhecido como a “invasão holandesa” de Pernambuco, bem sucedida devido às ações extemporânea de um certo Calabar. Tratava-se na realidade da expansão de negócios de uma corporação comercial, A Companhia das Índias Ocidental, igualmente responsável pelo estabelecimento de uma outra base de operações no norte da América, que viria a ser conhecida como a cidade de Nova York.Coube ao Reino de Portugal haver-se com tal corporação. Aos senhores da terra coube alguma ação local, que a mesma historia oficial exalta como um exemplo da união das rasas branca, negra e índia. Tal ação tinha como objetivo primeiro a manutenção dos privilégios a que tinham direito e que lhes foram concedidos por carta régia. Carta até hoje não revogada como se verá no decorrer da própria história.
Recuperados seus privilégios, retornam e formalizam mais a escravidão dos negros enquanto abandonam os índios a sua própria sorte e lenta, mas irreversível, extinção.
Ao longo dos anos que se seguiram e pelo pertinaz uso de recursos do Reino de Portugal, em proveito próprio, mantiveram seus intocáveis privilégios. E assim foi até o que a mesma história oficial chama de Independência do Brasil.
II – A Independência e os Capitães Hereditários
Nenhuma efetiva participação tiveram nessa independência. Muito mais uma questão a ser resolvida entre as famílias reais européias, que envolvia a crescente divida de Portugal com a potencia dominante e as conseqüências da aventura bonapartista, pouco ou nada representava para a classe dominante no Brasil. Mas, ainda aqui, em defesa de seus já históricos privilégios, aceitam passivamente a contratação, como do país que deveria surgir, da divida de uma nobreza arruinada. Caberia ao credor receber como pagamento o que pudesse extrair de um território que assim se abria a um novo colonizador, não por acaso a mesma potencia dominante. Senhora de uma revolução industrial, de um novo meio de transporte, que demandava enormes quantidade de carvão mineral e minério de ferro, assistiu, a classe dominante, a apropriação por parte da potencia dominante daquilo que não a interessava. Proprietária de carvão mineral em seu próprio território e minério de ferro em terras distantes, mas ricas em ouro, a também colônia Austrália, voltou-se, a potencia dominante, para a extração do látex da seringueira, arvore nativa e abundante, matéria prima de uma nova industria de promissoras perspectivas futuras, enquanto reservava para si as reservas de minério de ferro encontradas próximo às minas de ouro que explorava, a revelia dos senhores da terra.O ciclo da borracha inicia-se e se encerra sob o fervilhante gáudio desses mesmos senhores, senhores dos nativos e daqueles que enviavam de terras já esgotadas para o plantio da cana de açúcar.

Nenhuma ação. Contra uma remota ameaça a seus privilégios, proclamaram a república.
III – A Republica
Usufruíntes, como meeiros, da exploração da seringueira, sabem tirar partido da crise social resultante da unificação da Itália e abrem-se à imigração italiana, a mão de obra necessária para o novo ciclo de exploração que se sucederia à cana de açúcar: o café.
Por esse tempo, uma nova revolução industrial na Europa, na Alemanha, resultava em mão de obra ociosa, mas não sujeita a exploração agrária. No negocio da imigração e interessados em um pretenso equilíbrio entre aqueles que chegavam, aceitam a vinda de alemães, não para as terras do café, mas, sim, para um pouco mais ao sul, ainda desabitado, próximo à região a que uma certa Revolta da Chibata, com outro nome, havia chegado. Na visão dos mais instruídos, em Coimbra, Portugal, ou em França, preferencialmente Paris, históricas divergências entre Alemanha e Itália, seriam garantidoras do domínio que exerciam e do qual não abririam mão.
Alheios a qualquer horizonte, olhos fixos apenas nas burras do tesouro, adestrados nas praticas bancarias para mais e melhor se apropriarem do butim, bolsos cheios e chicote sempre as mãos, não se aperceberam do novo século e das conseqüências que duas revoluções industriais, em tão pouco espaço físico, fatalmente produziriam. Foram surpreendidos por uma anunciada débâcle.
Alheios ou resistentes a qualquer iniciativa de qualificar intelectualmente os seus (dês) iguais, com o característico desprezo pelos que vieram em busca de igualdade e liberdade, imigrantes italianos, não foram capazes de evitar a industrialização que se seguiu, fruto de um conhecimento que ignoravam e que viera com os que chegaram. Durante quase cinqüenta anos obrigaram-se a conviver com aqueles que de um modo ou de outro se tornaram beneficiados com a industria. Do norte, da antiga potencia dominante e de sua cria, agora, venturosa, chegavam noticias de um novo porvir. Abandonam suas tropas engalanadas e retomam o controle, valendo-se para isso de um egresso, sem galões, da engalanada tropa desprezada, que traz consigo a forçada versão do resistente que nunca foi, ostentando, com um falso que de ser igual, títulos acadêmicos conseguidos em França. Não foi o primeiro e seria tão útil quanto os anteriores. A este personagem caberia excluir não apenas os que se tornaram iguais pela industria, mas, mais importante, daqueles que almejavam a partilha do que julgavam ser também legítimos proprietários.
Em poucos anos tal personagem desbaratou a industria, a acumulação progressiva e progressista dos que partilharam da atividade econômica, a estrutura necessária à qualificação intelectual, a partição dos privilégios.
Não mais desatentos, produziram o seu rebento, o “enfant terrible”.
IV – O PT
Nenhuma ameaça enquanto o rebento se comportasse como tal. Todas as precauções foram tomadas para que o “enfant terrible” não viesse a causar embaraços. Desacostumado ao ambiente que lhe foi reservado, o rebento faz das suas. Acostumado a companhias outras que não aqueles de quem se servem os donos do poder, crescido em meio a “companheiros” de esbórnias inconfessadas, o “enfant terrible” precisa agora saber até onde pode agir fora dos padrões estabelecidos por aqueles que, por “carta regia”, tem direito ao que julgam ser os seus direitos.
Pobre PT. Impressionado, e levado a crer na falsa fineza adquirida do rebento, se deixa iludir, se deixa pensar que também é seu um lugar à sombra das velhas palmeiras que nunca viram um retirante à sua sombra. Chegaram à praia, exaustos, sedentos e famintos. Eram náufragos e não sabiam, eram degredados, sem liberdade, iludidos pelo sal do mar, pelo sol causticante, por estrelas tão distantes. Comportam-se, agora, como quem vem de longe e traz boas novas. Pobre PT. Não é seu este lugar, nem prazeres e delicias. O chicote estala ainda no ar, o pelourinho no meio da praça. Ainda demora, enquanto a “gente boa” não se assenta, saciada com deliciosas “quitandas”, para assistir ao nobre espetáculo, reescrito por velhos autores, re-encenado por velhos atores, em que se apresentam sabias considerações sobre a grandeza dos fortes e a tibieza dos fracos e oprimidos, que se assim o são, o são por conta da tanta sordidez de que são capazes. Pobre PT.