quarta-feira, maio 31, 2006

Mudanças nos Ecosistemas - V

Muito se tem perguntado, no mundo inteiro, sobre a importância das utilidades dos ecosistemas ao bem estar humano, em escala local, nacional e regional.
O que se pergunta é: Porque são úteis as avaliações em escala mundial e regional? A sexta pergunta na Avaliação dos Ecosistemas do Milênio.
Em geral, as avaliações tanto em escala mundial como regional, apresentam resultados semelhantes sobre as condições atuais dos ecosistemas. No entanto, as avaliações locais vêm diferindo, condições melhores ou piores, do que se poderia supor tendo por base a avaliação global.Isto acontece, em muitos casos, nas avaliações dos aguíferos ou no que diz respeito à biodiversidade. As avaliações locais identificaram um desequilíbrio na distribuição das utilidades e nos custos das mudanças dos ecosistemas, freqüêntemente avaliados após a mudança em sí.
Alguns problemas dos ecosistemas vêm sendo atenuados mediante respostas inovadoras, a nível local. Muitas vezes as ameaças observadas em escala global são difíceis de serem estimadas a partir de uma perspectiva local. Além disto, com freqüência, se ignora as conseqüências das ações sob a perspectiva do ator local. Disto resulta que as instituições são necessárias nos diversos níveis, de modo a que se reforce a eficácia de ações regionais e locais.
A Avaliação dos Ecosistemas do Milênio incluiu as avaliações em escala regional de modo a demonstrar as diferenças da importância das utilidades dos ecosistemas para o bem estar humano em escala local, nacional e regional. As avaliações realizadas em diferentes escalas, concentraram-se nos geradores de mudanças e nos impactos mais relevantes destas mudanças sobre os ecosistemas, em cada escala. Os resultados, diferentes, complementam-se. Cada avaliação oferece uma perspectiva diferente sobre os aspectos pesquisados.
O conjunto dos resultados mostram o estado atual das utilidades dos ecosistemas. É possivel que geradores de mudanças, parecidos entre si, sejam utilizados em avaliações diferentes. No entanto, as suas interações e as condições em que ocorrem as mudanças em ecosistema distintos são muito diferentes. Avaliações isoladas revelaram um desequilíbrio na distribuição das utilidades.
É preciso não ignorar que os atores locais percebem diferentes valores em diferentes utilidades. Certas ações, de considerável importância em escala global, como a redução e o sequestro de carbono, não são necessàriamente valorizados em escala local, o mesmo ocorre em sentido inverso, ações absolutamente necessárias a nivel local não o são em nível global.
Por outro lado, as avaliações que incluiram, não apenas conhecimento científico, mas também aqueles resultantes das tradições das culturas locais, revelaram-se mais relevantes e de mais fácil aceitação por parte dos atores locais.
As avaliações procuraram identificar padrões e processos, tão concreto quanto possivel, em sistemas complexos, buscando-se deixar margem para uma visão mais espiritual do mundo.

segunda-feira, maio 29, 2006

Mudanças nos Ecosistemas - IV

A quinta questão colocada é: Como poderão mudar os ecosistemas no futuro segundo os cenários possíveis.
Foram desenvolvidos quatro cenários possíveis. Estes cenários consideram duas possibilidades de evolução do mundo atual. O incremento da globalização ou o incremento da regionalização. Consideram ainda, em ambos os casos, uma abordagem reativa, quando a resposta somente virá depois que o problema se tornar óbvio, ou proativa, nos casos em que o processo decisório levar em conta a manutenção das utilidades dos ecosistemas.
Caso ocorra a globalização, o ação reativa foi denominada Global Orchetration, se for proativa, Technogarden. Se, ao contrário, ocorrer a regionalização, a ação reativa será a Order from Strength, se for proativa, será Adapting Mosaic.
Os cenários admitem que os geradores de mudanças, diretos e indiretos, que vão afetar os ecosistemas durante os próximos 50 anos serão fundamentalmente os mesmos. O que vai mudar é a importância relativa de cada um dos geradores de mudanças. A mudança do clima e a concentração de altos níveis de nutrientes na água (lençóis freáticos e aquíferos), serão cada vez mais importantes, enquanto que o crescimento da população será relativamente menor.
Os cenários antevêem uma rápida conversão dos ecosistemas no que tange a produtividade e a estrutura ambiental, bem como para o seu uso na agricultura, em áreas urbanas e em infraestrutura. A redução dos habitats naturais levará a perdas importantes para a biodiversidade até o ano de 2050. Três dos cenários prevêem ganhos em algumas das utilidades dos ecosistemas, o que permitirá controle de inundações, de epidemias e, ainda, do ciclo dos nutrientes.
No entanto, em muitos casos, o uso dos ecosistemas por parte das pessoas aumentará substancialmente, o que levará a uma deteriorização dos ecosistemas, especialmente os que forem utilizados de forma não sustentável. De modo geral espera-se que a saúde do homem melhore no futuro.
Somente o cenário que combine a regionalização com uma gestão ambiental de reação (order from strength) poderá levar a um aumento da pobreza, a degradação das condições de saúde e dos ecosistemas nos países em desenvolvimento.
A gestão proativa e o processo decisório voltado para o futuro é antevisto como benéfico, principalmente quando as condições das utilidades dos ecosistemas variarem. As surpresas dos ecosistemas são inevitáveis devido a complexidade existente entre as diversas utilidades e ao desconhecimento atual das propriedades dinâmicas dos ecosistemas.
Um processo decisório com vistas para o futuro, considerará que a recuperação das utilidades dos ecosistemas degradados ou destruídos, quando possível, é muito mais caro, em tempo e dinheiro, do que a prevenção. Há uma relevante análise de custos e benefícios, permitindo uma utilização mais eficiente dos recursos disponíveis, maior inovação tecnológica,melhor capacitação das utilidades dos ecosistemas e o aprimoramento do capital humano, social e natural. Isto no aspecto benefício, sob a visão dos custos podem-se considerar os problemas que novas soluções podem criar, os custos de monitoramento e, mais importante, alguns benefícios de curto prazo não podem ser tratados como se fossem de longo prazo.
De forma resumida são estes os cenários:
  • Global Orchestration - Sociedade interconectada em escala mundial, que se concentra no comércio e na liberalização econômica. Ao mesmo tempo adota medidas importantes para reduzir a pobreza e a desigualdade social e investe em utilidades públicas tais como infraestrutura e educação.Supõe o maior crescimento econômico e uma população menor em 2050.
  • Order from Strength - Apresenta um mundo regionalizado e fragmentado, preocupado com a segurança e a proteção, prioriza os mercados regionais e dá pouca importância às utilidades públicas. Supõe um menor crescimento econômico e um crescimento demográfico maior.
  • Adapting Mosaic - Os ecosistemas regionais são o centro da atividade política e econômica. As instituições locais são reforçadas. As taxas de crescimento econômico são baixas no início porém aumentam com o tempo e a população será menor do que no caso de order from strength.
  • Technogarden - Descreve um mundo globalmente inter-relacionado, que se apoia em tecnologia de respeito ao meio ambiente, que se vale de um alto grau de gestão sobre os ecosistemas, incluindo o uso de engenharia para obter utilidades. O crescimento econômico é bastante elevado e a população mundial fica no meio termo em comparação com os outros cenários

domingo, maio 28, 2006

Mudanças nos Ecosistemas - III

Quais são os fatores mais críticos que causam mudanças nos ecosistemas? É a quarta pergunta.
Geradores de mudanças são aqueles fatores naturais ou induzidos pelo ser humano que provocam as mudanças nos ecosistemas. A alteração nos habitats naturais e a exploração abusiva provocam mudanças diretas, de forma explícita, nos processos ligados aos ecosistemas. São os geradores de mudanças indiretas que induzem à mudanças diretas.
Os principais geradores de mudanças indiretas são aqueles ligados ao aumento da população, à atividade econômica e à tecnologia, bem como os fatores sócio-politicos e culturais.
A população mundial duplicou nos últimos 40 anos, sendo a maior parte nos países sub-desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento. As pressões sobre os ecosistemas aumentam em termos absolutos. Estes aumentos, não raro, são inferiores ao crescimento do PIB. Isto ocorre quando a estrutura econômica avança lentamente e quando os aumentos da eficiência e na produtividade não correspondem à substituição das utilidades dos ecosistemas.
Alguns dos geradores de mudanças, em conflito direto x indireto, são: as mudanças nos habitats naturais, as espécies invasoras, a exploração intensiva e a contaminação do solo e da água. A alteração nos habitats naturais se dá com a ampliação das áreas dedicadas à agricultura e ao aumento das áreas urbanas. A mudança do clima mundial vem aumentando e continuará a aumentar, afetando a temperatura, os regimes de chuvas e o nível dos oceanos.
As regiões pesqueiras exploradas com finalidade comercial se encontram provàvelmente em seu menor nível histórico. O uso intensivo de fertilizantes vêm contaminando os ecosistemas com quantidades excessivas de nutrientes. Nas condições atuais a maioria dos geradores de desagregação ambiental permanecem constantes ou estão intensificando-se.

sábado, maio 27, 2006

Mudanças nos Ecosistemas - II

A terceira pergunta formulada pelo relatório Avaliação dos Ecosistemas do Milênio, procura respostas sobre os efeitos das mudanças nos ecosistemas sobre o bem estar humano e a redução da pobreza.
O bem estar humano depende de condições materiais, da saúde, das relações sociais, da segurança e da liberdade. Para tudo isso é necessário a utilização de cada um dos fatores dos ecosistemas.
A produção de alimentos, o uso da água, os recursos do solo e subsolo, são particularmente importantes para melhores condições de habitabilidade e atividades econômicas que garantam o emprego e a renda. O uso intensivo dos ecosistemas levarão, com certeza, a um incremento, para melhor, das condições de vida, desde que respeitados os princípios básicos que norteiam o emprego e a renda. No entanto, no longo prazo, o uso excessivo e insustentável levarão a enormes perdas, um PIB em crescimento para um declinante bem estar social.
Daí a importância de estimular um processo decisório que tenha em conta o valor econômico completo dos ecosistemas e seus usos, de modo a evitar prejuízos e perdas do capital natural. Por adequado, não apenas é possivel reduzir a degradação ambiental, mas, objetivamente, inverte-la.
Os níveis da pobreza permanecem elevados, bilhões de pessoas dispõem de menos de US$ 1 por dia para satisfação de suas necessidades básicas. Uma grande maioria de seres humanos são dependentes diretamente do uso dos ecosistemas, são aquelas que se mantêm principalmente através de atividades de extração agrícola, do pastoreio e da caça. As regiões que enfrentam os maiores desafios para o desenvolvimento são, igualmente, as que possuem os maiores problemas relacionados ao meio ambiente. Localizam-se na Africa, partes da Ásia e na America Central e do Sul.
Certas mudanças nos ecosistemas resultantes do aumento da produção de alimentos, se ajudam milhões de pessoas a sair da pobreza, por outro lado provocam sérios efeitos negativos. A degradação provocada pelo uso intensivo e extensivo dos ecosistemas representa o principal fator gerador de pobreza que, por sua vez, aumenta a dependência das utilidades dos ecosistemas, em um círculo vicioso que leva a maiores pressões sobre os ecosistemas, maior pobreza e degradação e assim, sucessivamente.

sexta-feira, maio 26, 2006

Mudanças nos Ecosistemas - I

Em março de 2005 foi divulgado pela ONU a Avaliação dos Ecosistemas do Milenio. O objetivo deste relatório é questionar as ações que podem limitar as conseqüências da degradação dos ecosistemas.
A primeira pergunta a ser respondida é: Como os ecosistemas vêm mudando?
Praticamente todos os ecosistemas da Terra vêm sendo transformados de forma significativa pelas atividades humanas, essas mudanças tornaram-se especialmente rápidas nos últimos 50 anos. Há o consenso que as mudanças estão ocorrendo mais rapidamente nos países em vias de desenvolvimento, particularmente afetados pela pesca, pelo uso da água doce e pela agricultura.
Os ecosistemas dependem de ciclos naturais fundamentais, tais como a circulação da água, do carbono e de outros nutrientes. Estes ciclos naturais são afetados pelo maior uso da água, pela emissão de dióxido de carbono (CO2) e pelo uso de fertilizantes. O uso de áreas cada vez maiores para a monocultura agrícola resultam no crescente uso da água para irrigação, de fertilizantes para o plantio e de defensivos agrícolas que permitam uma maior produtividade da área plantada. O uso de aviões (para a aplicação dos defensivos) e de máquinas agrícolas (para a colheita) requer o uso de combustíveis fósseis. A formação de pastos para o gado resulta em maiores emissões de CO2. O desenvolvimento da piscicultura implica no acumulo de água onde nem sempre existiam áreas alagadas. Isto provoca perdas para a biodiversidades. Estas perdas revelam-se pela diminuição do volume de água nos rios e córregos bem como pela contaminação de aqüíferos. Os prejuízos para a biodiversidade são visíveis na diminuição da flora e da fauna.
Uma segunda pergunta que se coloca é como os ecosistenas mudaram. Algumas constatações revelam que o uso dos recursos aumentam rápidamente e, tudo indica, continuarão a aumentar, em alguns casos de forma insustentável.
Intervenções humanas diretamente nos ciclos naturais e o uso crescente de ecosistemas para o uso recreativo (turismo) determinam uma redução significativa na capacidade de alguns ecosistemas na manutanção do equilíbrio global.
A biodiversidade reflete o número, a variedade e a variabilidade dos seres vivos em um ecosistema. A mudança na biodiversidade em um determinado lugar afeta a capacidade, em outro lugar, de um ecosistema recuperar-se de alguma pertubação que eventualmente venha sofrer.
Quando os seres humanos modificam um ecosistema para obter alguma coisa, provocam em contrapartida efeitos negativos sobre outros componentes do mesmo ecosistema.

quarta-feira, maio 24, 2006

O Aquecimento Global

Há, mais ecentuadamente na Europa, um debate sobre o aquecimento global.
O Prof. Marcel Leroux (professor de Climatologia da Universidade Jean Moulin, Lyon III, França), assegura que o aquecimento global é uma hipótese fornecida por modelos teóricos baseadas em relações simplistas que anunciam, mas não demonstram o aumento da temperatura. Leroux afirma que o aquecimento global é uma impostura científica, que o principal problema é determinar as causas dos recentes desvios climáticos que os modelos atualmente em uso não previram. É fato que estes desvios ocorreram, não apenas recentemente, mas ao longo dos anos anteriores a 1998, quando o tema tornou-se objeto de grande discussão. Discussão esta extremamente confusa, que envolve aspectos relacionados a poluição, naturalmente provocada pelo CO2, e especificidades da "climatologia".
O IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Changes, basea-se em estudos e análises de diversos cientistas de vários países , afinal é um órgão das Nações Unidas, que vêem a questão a partir de sua própria base de observação, quase sempre o próprio país, e pelas limitações quanto aos conhecimentos de climatologia. Tal fato é reconhecido pelo IPCC quando afirma qua "a aptidão dos cientistas para fazer verificações das prejeções provenientes dos modelos é bastante limitada pelos conhecimentos incompletos sobre as verdades climáticas" (UNEP-WMO, 2002, p.7). Quanto a isso Leroux acentua que os modelos não podem integrar todas as componentes dos fenômenos (climáticos). Ao ingressar em campos próprios da meteorologia, há que reconhecer que esta é uma ciência de muitas fraquezas fundamentais, o que se torna claro ao observarmos os muitos desacertos das previsões meteorológicas. Daí que o assunto deve ser centrado rigorosamente e unicamente na climatologia.
O efeito estufa é uma realidade, independente da ação dos seres humanos. No entanto, as atividades da vida humana provocam um efeito estufa adicional, resultante da emissão dos diversos gases de efeito estufa, os GHG - Greenhouse Gases. Esta é a questão, em quanto tempo e em quantos graus aumentará a temperatura do planeta Terra?
Independe da ciência da climatologia os efeitos sobre a atmosfera causados pelas emissões de CO2. A, perfeitamente observável, poluição causada pelo CO2 é demasiado importante para ser deixada de lado.
É fato que muitos desvios climáticos vem ocorrendo recentemente, talvez trata-los apenas como fenômenos do aquecimento global não seja muito pertinente à ciência da climatologia. Requer mais atenção. Oa parâmetros climáticos não variam isoladamente, o tempo é função, em proporções muito diferentes, de condições próximas e de condições afastadas.
No Brasil tivemos a seca na região amazônica, em 2005, e, igualmente, no Rio Grande do Sul. No verão 2003/2004 fortes chuvas inundaram o Nordeste, seguidas de prolongada seca, principalmente no norte de Minas Gerais, no vale do Jequitinhonha. O que o incontrolável desmatamento das regiões do Cerrado e da Amazônia tem a ver com prolongadas secas no sul? A exploração madeireira na amazônia peruana e suas conseqüências nos Andes? que, sabemos, tem forte influencia no clima em todo o Brasil.

terça-feira, maio 23, 2006

As Qeimadas em Mato Grosso

O principal foco de incêndios em todo o mundo encontra-se no Brasil e é o estado de Mato Grosso. As queimadas consomem madeira, resultado do desmatamento indiscriminado. Durante o seu crescimento a árvore absorve o dióxido de carbono - CO2 e libera o oxigênio. É este CO2 que a madeira libera ao ser queimada.
O uso sustentável de uma floresta implica, necessáriamente, em uma árvore plantada para cada árvore derrubada. As queimadas representam o maior emissor de CO2, a sua maior fonte.
O Brasil caminha a passos largos para ocupar o primeiro lugar na emissão de CO2. O custo econômico desta conquista será enorme para o Brasil, não há quantidade de soja nem quantidade de cabeças de gado que pague este custo.
O Protocolo de Quioto estabelece como Primeiro Período de Compromisso o intervalo entre os anos de 2008 a 2012. Neste período os países listados no Anexo I do Protocolo aceitaram o compromisso de reduzir suas emissões em, pelo menos, 5% dos níveis praticados em 1990.
O Brasil é Parte não incluída no Anexo I. Talvez a mais relevante das Partes Não Anexo I, exatamente por possuir a maior área de sumidouros e o maior reservatório de gases de efeito estufa. Estas áreas são, específicamente, o Cerrado e a Caatinga, como sumidouros, e a Floresta Amazônica como reservatório. As queimadas afetam diretamente o maior patrimônio do Brasil. Como Parte Não Anexo I o Brasil está habilitado a beneficiar-se de atividades de projetos que resultem em reduções certificadas de emissões. As Partes Não Anexo I são aqueles países em desenvolvimento cujas emissões de gases de efeito estufa são reduzidas e não tem compromisso para reduzir suas emissões. Ser Parte Não Anexo I é hoje, entre todas, a maior "vantagem competitiva" do Brasil.
Cada projeto aprovado resulta na emissão das RCEs, Reduções Certificadas de Emissões, que são os títulos a serem negociados no Mercado de Carbono. Este mercado, para o qual o Brasil aparentemente ainda não despertou, movimentará alguns bilhões de dolares nos próximos anos.
Ao queimar o Cerrado e parte da Floresta Amazônica os proprietários destas áreas as excluem
de qualquer possibilidade de virem a ser objeto de projetos vinculados ao MDL - Mecanismo de Desnvolvimento Limpo. Das queimadas resulta a destruição de uma biodiversidade nunca devidamente pesquisada, mas sobre a qual estima-se um valor de muitos milhões de dolares, como fornecedoras que são de matéria prima para a indústria farmacêutica e de cosméticos.
Projetos de reflorestamento sómente serão possiveis para terras que não continham florestas em 31 de dezembro de 1989. Florestamento é a conversão induzida de terras que não foram florestadas por um período de, pelo menos, 50 anos. Todo o Mato Grosso, sul do Pará e Rondônia estão excluídos.
Ao promoverem queimadas e desmatamento os endividados agricultores brasileiros na realidade queimam dinheiro.
Ao tornar-se um dos maiores, se não o maior, emissor de gases de efeito estufa, o brasil viola o Protocolo de Quioto, do qual é o principal mentor, e corre o risco de ser excluído do rol de Parte Não Anexo I. Se isto acontecer nenhum projeto de MDL será aprovado para o Brasil, que se verá, então, excluído do Mercado de Carbôno e de seus bilhões de dolares.

sábado, maio 20, 2006

A Curva de Hubbert

Estabelecida por M.K.Hubbert, determina o ano provável em que a produção de petróleo atingirá o seu nível mais alto. A partir daí começa o declínio. É o pico mundial do petróleo, também conhecido como o Pico de Hubbert.
A validade desta curva, construída a partir de uma série de equações matemáticas de elevada complexidade, deve-se ao fato de que em 1956 Hubbert previu que a produção americana (EUA) de petróleo atingiria o seu pico no início dos anos '70, do séculoXX, o que veio a comprovar-se efetivamente. Adotada a mesma metodologia, a nível mundial, o Pico de Hubbert deverá ser atingido ao longo da primeira década deste século.
A ASPO - Association for Study of Peak Oil and Gas, citada na postagem anterior, uma entidade criada em 2001, vem tentando demonstrar que será um problema abastecer o mundo com petróleo a medida em que cresce a demanda, determinar a data mais provável em que ocorrerá o Pico de Hubbert, 2010 como já referenciado anteriormente, e oferecer sugestões para a crise que se aproxima.
A partir de 2004 algumas das principais empresas petrolíferas registraram redução das suas reservas. Paralelamente, o número de novas refinarias vem diminuindo nos países de grande consumo, desde 1976 nenhuma delas foi construída nos EUA, bem como a capacidade de transporte por navios petroleiros não aumenta, a medida em que navios superados são retirados de uso. O numero de áreas a serem prospectadas estão reduzidas a alguns poucos países. Estima-se que a quase totalidade do petróleo já foi descoberta, razão pela qual os investimentos em exploração apresentam-se em declínio.
A essa situação acrescenta-se a delicada questão do aquecimento global e da mudança do clima, provocados pelo acumulo de CO2 na atmosfera resultante da queima do petróleo.
A busca por combustíveis provenientes da exploração agrícola, não emissores de CO2, torna-se uma realidade presente na política energética das econômias mais avançadas.
O mercado de carbono desenvolve-se a cada dia, levando ao aumento do número de projetos de florestamento e reflorestamento para absorção de carbono (CO2) e de geração de energia, pelo aproveitamento dos gases emanados pela decomposição de matéria orgânica.
A gravidade da situação consiste no conjunção de diversos fatores, o declínio na produção de petróleo, o aumento do aquecimento global e do efeito estufa, a ausência de tempo útil para a investigação acadêmica, o indispensável uso dos equipamentos já concebidos e ainda em produção, todos movidos a combustíveis fósseis.
Estes são apenas alguns dos fatores que, aliados a instabilidade política dos países produtores de petróleo, aos custos sociais da degradação ambiental provocada por esse mesmo petróleo, aos impactos econômicos causados pela redução da oferta de petróleo e pelo aumento do risco de cataclismas naturais, colocam o mundo diante de seu maior desafio, a preservação das condições da vida humana na Terra, ameaçada pelo uso do petróleo e, igualmente, pela sua falta.

sexta-feira, maio 19, 2006

O Futuro do Petróleo

A petroleira TOTAL, quinta maior empresa de petróleo do mundo, reconheceu ao jornal inglês The Time não ser possível produzir petróleo em quantidade suficiente para atender às projeções de demanda para a próxima década. Há problemas não só nas reservas mas também na capacidade de extração.
Anteriormente a Chevron e a Repsol já haviam reconhecido esta situação.
A China, país de maior crescimento econômico nos últimos cinco anos, apresenta um crescimento médio do PIB de cerca de 8%, enquanto que o consumo de petróleo registrou um aumento de 8,4% a cada um dos cinco anos. Nos próximos anos a China dobrará as suas importações diárias de petróleo.
A ASPO, Association for Study of Peak Oil and Gas, estima para 2010 o ano de produção máxima , embora admita que a produção dos campos petrolíferos em águas profundas possa adiar em alguns anos esta data. Para um consumo de 30 bilhões de barris por ano, as descobertas de novos campos não ultrapassam 4 bilhões de barris de produção por ano.
A Chevron anuncia que o mundo consome dois barris de petróleo para cada barril descoberto. A ExxonMobil estima que a diminuição da produção de petróleo seja da ordem de 4% a 6%.
A ASPO prevê que em dois anos será preciso extrair de novos campos um adicional de 11 milhões de barris por dia e que em 2010 esse número crescerá para 25 milhões.
A importância das reservas de petróleo em águas profundas reside no fato de que em 54 dos países produtores de petróleo a produção vem diminuindo anualmente. Brasil e Bolivia são dos poucos que possuem potencial para aumentar a produção, ainda que o óleo das novas reservas descobertos no Brasil seja de óleo pesado, inadequado para as refinarias brasileiras.
A difícel situação do petróleo é agravada pela situação do Iraque. Com reservas de 112 bilhões de barris, nos anos em que chegou a produzir 3,4 milhões de barris por dia, a ASPO considera como o mais provável reservas de 46 bilhões de barris, ainda a confirmar.
A questão a discutir é o que fazer para reduzir o consumo, o planeta Terra não suportará o aumento das emissões de CO2 por muitos anos mais.
A redução do consumo é fundamental, visto que o pico mundial de petróleo representa um problema de uma gravidez sem precedentes, que envolve enormes riscos políticos, econômicos e sociais. Programas de redução demandarão um tempo de 20 anos para que apresentem resultados plenos . E isso não será possivel sem que parte das reservas existentes sejam utilizadas.

quinta-feira, maio 18, 2006

O Gás Natural

A origem do gás natural é semelhante à do petróleo e normalmente os seus depósitos estão associados a campos ou bacias petrolíferas.
São variadas as aplicações do gás. Utilizado como combustível para veículos autopropulsados, centrais termoelétricas e caldeiras é, também, matéria-prima de uma grande quantidade de produtos químicos, farmacêuticos e plásticos. A sua importância para a agricultura resulta do fato de ser utilizado na produção de adubos.
É de extração muito mais simples que o petróleo, a própria pressão do poço torna desnecessário o seu bombeamento e, devido a essa mesma pressão, pode ser facilmente transportado por gasodutos.
No México e nos EUA a produção do gás encontra-se em forte declínio, sendo ambos dependentes do Canadá para o suprimento de suas necessidades. A América do Norte, como um todo, enfrenta uma escassez crescente de gás natural. Em conseqüência, aumenta o numero de fábricas que buscam novas localizações, em parte na àsia e no Oriente Médio.
Na América do Sul o gás ainda é pouco utilizado. O maior consumidor é o Brasil, comprador de 2/3 do gás boliviano.
Embora facilmente transportado por gasodutos, a um custo bastante baixo, o seu transporte por navios é extremamente complexo e caro. Requer navios-tanque especiais, uma vez que o gás precisa ser liquefeito e altamente pressurizado, necessita de instalações portuárias específicas e tecnicamente sofisticadas e o seu transporte é muito mais perigoso do que o do petróleo, mesmo em gasodutos. O gás natural é explosivo a partir de uma concentração de 5% de ar ambiente.
Os EUA, maiores consumidores do mundo, encontram-se na difícil situação de reduzir o consumo de gás natural.
O gás boliviano e da bacia de Campos poderão tornar-se fortes indutores de uma industrialização alavancada, tanto na Bolivia como no Brasil, nas áreas adjacentes aos oleodutos, e no norte da Argentina.

quarta-feira, maio 17, 2006

O Gás Boliviano

...e as vantagens competitivas.

Muito se escreve e pouco se diz sobre a questão do gás boliviano. A ser discutido não é o direito do povo boliviano controlar as suas riquezas naturais e, muito menos, o propalado descumprimento de contratos, acordos ou que nome tenham. Importa menos ainda saber porque a Bolívia nacionalizou o seu petróleo e gás.
Informações provenientes de diversas fontes sugerem que a Petrobras paga pelo gás o preço de US$ 3,38 p/BTU - British Thermal Unit. No mundo do petróleo, em todos os mercados, o gás esta vinculado ao petróleo, incluindo aí o preço de ambos, e não há como desvincular um do outro.
Os, agora revelados, ainda que de forma imprecisa, investimentos da Petrobras, na exploração de petróleo e gás, refino do primeiro e transporte do segundo, não serão aceitos em nenhum tribunal do mundo, fala-se em Nova York, pela razão de nunca terem sido auditados e, em momento algum, colocados em discussão, nem antes dos acordos e contratos serem assinados e muito menos depois.
O que se coloca, ou deveria ser colocado, são as vantagens competitivas em jogo. Para o futuro, já que o passado, de ambos os lados, não é promissor para uma solução que alcance o equilíbrio entre a ponta vendedora, a Bolívia, e a ponta compradora, o Brasil.Esse equilíbrio é fundamental.
O que se conhece, e tudo o que se sabe, indica que nenhum dos combustíveis alternativos, alcool, etanol, biodiesel e outros, são substitutos de fato para o petróleo e o gás natural. Com o agravante que mesmo o gás natural não é substituto do petróleo em todos os seus usos.
Não se trata aqui apenas de impulsionar automóveis. O gás natural é fonte de energia para operações industriais, muitas de grande envergadura. O petróleo, em alta continuada, não sinaliza qualquer estabilização de preços. A demanda não é estável, é crescente.
No momento, e essa é a vantagem da Bolívia, o Brasil dispõe de reservas de gás na bacia de Campos, já em exploração, e na bacia de Santos, com exploração prevista para três anos, numa projeção otimista, mas não provável.
A plena operação de Santos resultará em um gás a preços internacionais na "boca do poço", devido aos muitos compromissos da Petrobras em níveis, também, internacionais. Desses preços o Brasil não escapa.
A bacia de Santos não será um substituto pleno à Bolívia, somente o será com graves prejuízos para a indústria brasileira. Essa é a condição a ser convertida em vantagem competitiva pelo Brasil.
Na ausência de uma política nacional de energia é mais conveniente e seguro optar por duas fontes de suprimento. Daí porque é pouco consistente as manifestaçõoes de apoio a eventuais medidas de força a serem tomadas contra a Bolívia, o que resultará, de fato, em abrir mão da enorme vantagem competitiva detida pelo Brasil, de ser o maior consumidor no presente e no futuro. É conveniente não esquecer que o poder de compra pode ser maior que o poder de venda. Independente de ter ou não uma política nacional de energia.
O gás da Venezuela, além de ser mais caro que o da Bolívia, e certamente o será, estará disponível, se vier a estar, em um futuro incerto e não sabido.

terça-feira, maio 16, 2006

O Uso do Carvão Vegetal

... e o seu uso para a produção do ferro gusa

O carvão vegetal é usado como matéria - prima termorredutora na produção do ferro gusa.
Caso resulte de madeira proveniente de florestas ambientalmente monitoradas, a área de floresta necessária à produção de carvão, para cada tonelada de ferro gusa, durante o seu período de crescimento, capta até 19 toneladas de dióxido de carbono e libera até 16 toneladas de oxigênio.
O carvão vegetal vai ao alto forno juntamente com o minério de ferro, ele não é a fonte de energia, ele é matéria - prima como o minério de ferro é. Durante a queima, o carvão vegetal libera o carbono, anteriormente absorvido pela árvore durante o seu crescimento, que é absorvido pelo minério de ferro.
Ao contrário do carvão mineral, não são liberados neste processo os diversos gases de efeito estufa, caracteristica dos combustíveis fósseis. É, portanto, um recurso sustentável no ciclo siderúrgico e dentro do espírito do Protocolo de Quioto e do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
No entanto, a produção de carvão vegetal no Brasil vem ameaçando os seus biomas. Excluída a Mata Atlantica, que, de sua área original, reduz-se hoje a 8%, a Caatinga, em processo de desertificação e o Cerrado, tomado pela ocupação desordenada da soja e do algodão, são exemplos a serem evitados.
Informações recentes dão conta de que o cultivo da cana de açucar e a produção de carvão vegetal iniciam o avanço sobre o Pantanal, de modo algum adequado a essas atividades como a seguir se expõe.
O Pantanal
Caracteriza-se por duas estações bem definidas do ano: a das chuvas, de novembro a março e a seca, de abril a setembro.
Planicie, levemente ondulada, pontilhada por morros isolados em meio a depressões rasas, que serão inundadas durante as chuvas, têm seus limites marcados por variados sistemas de elevações, como as chapadas, serras e maciços. Seus rios, uma grande quantidade deles, pertencem à Bacia do Rio Paraguai.
Nas regiões de altitude intermediária encontra-se a vegetação típica do Cerrado. Árvores de porte médio, de casca grossa, folhas recobertas por pêlos ou ceras e raízes profundas, são entremeadas por arbustos e plantas rasteiras. Durante o período da seca, perdem suas folhas, algumas perdem seus ramos, e, típicamente, florescem. Nas demais regiões, baixas e úmidas, formada por campos limpos, predominam as gramíneas, formando áreas ideais para pastagem de gado.
A flora pantaneira, um misto de matas, cerradões e savanas, é de alto potencial econômico, ainda não totalmente estudado, com suas espécies apícolas, comestíveis, taníferas*, medicinais e de uso cosmético.
Dadas as condições de terreno e flora, abriga uma fauna extremamente rica, que inclui mais de 650 espécies de aves. Seus rios, inumeros, são riquíssimos reservatórios de peixes.

* taníferas - que produz ou contém tanino, usado no curtimento de couro e para fixar cores em pinturas ou tinturaria.

domingo, maio 14, 2006

Combustíveis Líquidos

A BM&F, o Alcool e a Soja

A relevante questão sobre a produção de combustíveis líquidos alternativos ao petróleo e ao gás natural não parece merecer a atenção dos responsáveis pela formulação de uma política energética para o país.
No momento, o combustível líquido alternativo disponível no Brasil é o alcool, extraído da cana de açucar. Existe a viabilidade concreta (em termos técnicos) do uso do girassol e pesquisas, já em estado avançado, para o uso da soja e da mamona.
O alcool como combustível já é amplamente utilizado.
Não se conhece estudos fundamentados sobre os custos para a produção de biodiesel a partir do girassol, da soja e da mamona, de modo a que se possa determinar o preço por litro ao usuário. Igualmente não se conhece qualquer estudo que permita a formulação de uma política de preços para o alcool combustível.
Para uma política de preços voltada para combustíveis líquidos alternativos o mais correto é a adoção de mecanismos, via BM&F, para a negociação de contratos futuros envolvendo não apenas a matéria prima, mas igualmente o combustível a ser produzido. Os mecanismos para a negociação a futuro de alcool e soja estão já disponibilizados pela BM&F.
No caso do alcool, o que se observa é uma descoordenação entre produtores e distribuidores de combustíveis, o que leva a uma situação de preços oscilantes para o consumidor, sem que o mesmo (o preço) esteja vinculado a qualquer indicador consistente.
A BM&F informa em seu relatório "Estatísticas dos Mercados Físico e Futuro", aqui analisado para os casos do alcool e da soja, as condições hoje existentes no Brasil para este tipo de mercado.
Alcool
Em 2001 foram negociados 67577 contratos referentes a 2025810 m3 a um preço médio entre o primeiro e o segundo vencimento de R$ 623,00. Em 2005 os contratos negociados reduziram-se a 25546 para 766380 m3 a um custo médio de R$ 1133,00.
A produção de alcool anidro que na safra 2000/01 foi de 5620964 m3, subiria para 8216326 m3 na safra de 2004/05.
Soja
Para uma evolução da área plantada, em mil hectares, de 16326,00 na safra 2001/02 para 23301,00 na safra de 2004/05, foram registradas a produção, em mil toneladas, de 46916,90 em 2001/02 e de 51090,00 em 2004/05.
Nesse período houve queda na produtividade de 2567 kg/ha para 2193 kg/ha.
Na BM&F foram negociados a partir de 2003 (nos anos de 2001 e 2002 foram poucos os meses em que foram registradas negociações), em toneladas, as quantidades de 211700 para este ano, 351149 em 2004 e 1209735 em 2005. É muito pouco.
Para se ter uma idéia, na CBOT - Chicago Board of Trade o total do volume negociado do complexo soja foi, em toneladas, 3792383.
Falta, de fato, uma política de comercialização e de preços para produtos agrícolas. Esta política é fundamental para a evolução no Brasil do uso do combustível líquido alternativo ao petróleo, notadamente o biodiesel.

sexta-feira, maio 12, 2006

De Plotino a Maquiavel

Dos Fundamentos aos Feitos

É conveniente compreender as dessemelhanças entre as origens e os fundamentos.
Segundo Plotino "A razão contempla a sua origem, não por estar separada dela, mas porque vem logo em seguida e nada existe entre ambas".
Já Maquiavel, em O Príncipe (Capítulo XVII, 4), referindo-se a Aníbal, comenta; "...lhe admiram os feitos, e condenam de outra seu fundamento". No caso de Aníbal o fundamento principal, na avaliação de Maquiavel, era a sua desumana crueldade; o feito , suas vitórias.
Plotino e Maquiavel nos levam aos partidos políticos hoje dominantes na cena brasileira. Ocorre aqui uma disputa entre o povo e os grandes. Maquiavel escreveu: "... porque, se se apercebem os grandes de não poderem resistir ao povo, prestigiam um dos seus, para, à sua sombra, satisfazer a sua sêde de dominio. Por outro lado, o povo, quando sente não lhe ser possível resistir aos grandes, procura prestigiar determinado cidadão, e fá-lo príncipe, para por sua autoridade ver-se defendido" (Capítulo IX, 2).
Quanto aos dois partidos políticos em disputa , há aqui algo relevante. Embora de origens distintas (e completamente distintos entre sí), buscam os mesmos feitos e partem dos mesmos fundamentos. Aqui há uma dessemelhança aparente entre a origem e o fundamento.
Ainda segundo Maquiavel (Capítulo IX, 3) "... porque o objetivo do povo é mais honesto que o dos grandes, querendo êstes oprimir e aquêle não ser oprimido".
Eis aqui a questão. Não há distinção entre os objetivos de ambos, coexistem no mesmo sistema político (de modo algum o renegam), disputam o poder seguindo as mesmas regras estabelecidas (nenhum dos dois as violam ou pretendem mudá-las), e valem-se da mesma metodologia ideológica (econômica). O regime de votos tem os vícios instituídos por todos os participantes, sem exceção.
Se Plotino estiver certo, nenhuma mudança é de se esperar após as eleições gerais marcadas para outubro próximo. Se quem estiver certo for Maquiavel alguma mudança deverá ocorrer.
Como a história tem demonstrado que ambos estão sempre certos, é de se esperar que a mudança se dê na origem, que, aqui sim, são semelhantes aos fundamentos. É quase certo que o partido político atualmente no poder, aí venha a conservar-se, mas, o que no Brasil é genéricamente conhecido como "instituições democráticas", deverá sofrer a sua primeira mudança, cuja origem remonta a 1532, quando foram criadas as Capitanias Hereditárias, regime político que embora adaptado às condições econômicas e, eventualmente, políticas, permanece essencialmente o mesmo.
No Brasil de hoje uma nova sociedade encontra-se em formação, gerando uma nação que o IBGE não conhece e a Secretaria da Receita Federal não sabe onde fica. Neste novo Brasil os fundamentos confundem-se com as origem, estranhamente iguais. A mudança virá, se não em outubro próximo, virá em um futuro não muito distante.

segunda-feira, maio 08, 2006

O bioma Caatinga

Caatinga - O bioma Caatinga

A caatinga ocupa uma área de 900000 km2 aproximadamente. É um cenário árido, com índices pluviométricos em torno de 500 a 700 mm anuais. A temperatura média se situa entre 23 e 24 graus Celsius e é batida por ventos fortes e secos. O sol forte acelera a evaparação da água, sendo os meses de janeiro a março o período das chuvas. O solo raso e pedregoso não armazena água, sendo as áreas próximas às serras as de maior abundância de chuvas e as únicas apropriadas à agricultura.
A irregularidade climática é característica e nem sempre chove no verão (janeiro/março). Nas regiões mais altas do planalto as variações diárias de temperatura e umidade podem ser bastante pronunciadas, sugeitas à ação do vento a ao regime das secas.
Os rios que cruzam a caatinga são o Parnaíba e o Sâo Francisco, sendo que aqueles cujas nascentes encontram-se na caatinga permanecem secos a maior parte do ano.
O solo é relativamente fértil e rico em recursos genéticos devido à sua elevada biobiversidade. No período das chuvas o colorido diversificado das flores constrata com o aspecto agressivo da vegetação. Não é uma região madereira. Nos últimos anos áreas enormes vem se transformando em deserto devido ao corte da vegetação nativa para produção de lenha e carvão vegetal. A formação vegetal constitue-se de árvores baixas e arbustos que perdem as suas folhas na estação das secas. São características também as espécies cactáceas.
A degradação ambiental vem sendo irreversível na caatinga . Sendo o ambiente adaptado ao calor e a seca, não resiste à ação humana desordenada, já que o seu processo de recuperação natural é bastante lento. A fauna da caatinga sofre grandes prejuízos devido a caça e às perdas de seu habitat.
De acordo com o IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis, é urgente o combate à degradação da caatinga e a promoção do seu uso sustentável.
O uso da lenha e do carvão vegetal correspondem a 30% da matriz energética usada nas indústrias da região, o que vem agravando o desmatamento e a conseguente degradação ambiental. A insustentabilidade é flagrante, como se constata pela desertificação de extensas área da caatinga, algo já superior a 17% da região.
Na formação original permanece ainda 50% de todo o bioma. Uma riqueza incalculável, fonte abundante de plantas medicinais e de materia prima para a indústria de cosméticos. Não há nenhum projeto de exploração sustentável ou mesmo de pesquisa e estudo de suas enormes potencialidades.

sábado, maio 06, 2006

As sementes Terminator
No COP8/MOP3, realizado em Curitiba de 13 a 31 de março, ficou estabelecida a moratória para a comercialização e os testes de campo das tecnologias de restrição de uso genético - Gurt (Genetic Use Restriction Technology), que inclui a tecnologia Terminator, ou a produção de sementes estéreis na segunda geração, das quais são excluídas algumas funções vitais.
Históricamente os agricultores reproduzem suas próprias sementes quando o tipo de cultivo lhes permite. Deste modo, foram adaptando, ao longo de centenas de anos, milhares de cultivos a inumeráveis situações geográficas, climáticas e culturais. Isto tem significado o livre fluxo de sementes, saberes e criações mútuas. Este livre fluxo estaria sériamente ameaçado caso a moratória para o uso da tecnologia Terminator fosse suspenso. A semente Terminator é uma construção genética de reação em cadeia, ela pode cruzar-se com outras sementes, mas caso entrem em contato com um detonante químico o componente Terminator é ativado, tornando-as estéreis. Este fenômeno atingirá todas as sementes resultantes de cruzamentos anteriores.O
detonante químico encontra-se nos herbicidas e nos fertilizantes.
Apenas 4 empresas detêm 86% das patentes sobre variantes da tecnologia Terminator. Rompida a moratória, estima-se que em pouco tempo toda a produção de sementes passará a incorporar esta tecnologia, como também é estimado um impacto considerável no custo da produção agrícola.
Estas sementes incluem a soja, o milho, o algodão e outras cujo uso ainda não é extensivo no Brasil. O impacto nos custos se dará não apenas nos produtos alimentícios a base de soja e milho e em razões animais, atingirá tambem a questão energética.
A soja avança sobre a floresta amazônica, após ter tomado praticamente todo o cerrado do centro oeste brasileiro, em função de um consumo crescente e que deverá aumentar na medida em que a soja se torne matéria prima para o biodiesel. O milho, matéria prima do etanol, igualmente será atingido.
O aumento do custo de produção resultante do uso de sementes Terminator abre uma interrogação sobre a viabilidade econômoca de seu uso para a produção de combustíveis
líguidos.
Se 4 empresas dominam 86% das patentes GURTs apenas 3 controlam o mercado interno da soja no Brasil, a cadeia do milho é um pouco maior. As perspectivas do milho e da soja no Brasil não são portanto muito alvissareiras.
A se confirmar o cenário de quebra da moratória das GURTs, o produtor estará na dependência de 4 fornecedores de sementes e de 3 compradores, que dominarão todo o ciclo produtivo da soja e do milho, embora o Brasil utilize o alcool e não o etanol como combustível.
Neste cenário o biodiesel a partir da soja não será um alternativa, mesmo que o consumo de energia para a sua produção venha a torna-lo viável.
O gás natural como fonte de energia permanece ainda como uma das únicas alternativas disponíveis a custos competitivos. O petróleo e a água para produção de eletricidade são as outras duas.

quinta-feira, maio 04, 2006

Vantagem Competitiva / Risco Ambiental

Há um consenso entre os diversos centros de conhecimento que se dedicam ao estudo sobre energias líquidas renováveis como alternativa ao combustível fóssil, quanto às dificuldades em estabelecer orçamentos realistas de energia.
O uso da terra para a produção de combustíveis implicaria um desflorestamento cujos custos são impossíveis de calcular, dada a redução da capacidade natural no sequestro de carbono. O que os estudos sobre energias líquidas renováveis vem demonstrando é que a energia consumida para a produção de combustíveis líquidos é maior do que a energia produzida pela combustão desses produtos.
No caso do hidrogênio a questão é igualmente grave. O hidrogênio livre não existe na natureza. Não é uma fonte de energia, mas sim um condutor. O hidrogênio livre hoje produzido é obtido a partir do gas natural. Se obtido a partir da àgua, para cada unidade de hidrogênio são necessárias 1,3 unidades de eletricidade.
A recente nacionalização das reservas de petróleo e gás por parte da Bolívia, excluídas eventuais motivações políticas, coloca em destaque a questão do preço a ser pago pelo gás boliviano.
O valor do gás está obviamente associado ao preço do petróleo. Comunicado da Petrobras informou, recentemente, ter o Brasil alcançado a auto-suficiência na produção de petróleo. Por questões ligadas à qualidade do óleo extraído pela Petrobras, o Brasil continua dependente da importação do óleo diesel.
O combustível líquido, conhecido como biodiesel, pode ser obtido a partir da soja, girassol, mamona e palma. Começam a ser conhecidos os custos ambientais da expansão do cultivo da soja e da cana de açucar, este último já utilizado na produção de combustível líquido pelo Brasil.
Na bacia de Santos tem início a exploração de gás natural, disponível para o consumo interno dentro de alguns poucos anos.
No caso do gás boliviano as vantagens competitivas estão com o Brasil. É o maior consumidor, em torno de 2/3 do gás extraído, detem a tecnologia para a extração e para o processamento do gás necessário para a sua disponibilização através de gasoduto, de propriedade da Petrobras, é o proprietário intelectual dos processos utilizados pelas refinarias ora nacionalizadas e, ainda, o maior fornecedor de óleo diesel, resultante do refino do petróleo extraído na Bolivia. Pesa contra os interesses do Brasil o fato de não terem sidos, ainda, esclarecidas as diretrizes a serem adotadas pelo governo boliviano quanto ao preço a ser cobrado pelo gás enviado para o Brasil.
Como a Petrobras repassa para o preço interno dos combustíveis os preços internacionais do petróleo, é de se esperar que faça o mesmo com o gás extraído da bacia de Santos.
O mercado de carbono, implementado pela BM&F em agosto de 2005, vem sendo pouco explorado, ao tempo em que a floresta amazônica, o Cerrado e agora a Caatinga, estão sob forte impacto ambiental resultante do cultivo desordenado da soja. Estes ecossistemas constituem um patrimônio de valor muito superior aos ganhos com o uso do gás, boliviano ou brasileiro, mas o seu uso é um tempo a mais enquanto a questão ambiental e o mercado de carbono não adquirem a importância necessária nos debates nacionais.

terça-feira, maio 02, 2006

V Congresso Ibero-Americano de Educação Ambiental

De 05 a 08 de abril foi realizado em Joinville o V Ibero, no qual foram reafirmados os princípios do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global e o início do processo internacional de revisão e difusão do documento.
O Congresso, realizado no âmbito da Rede de Formação Ambiental do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA/ORPALC, teve como tema central "A Contribuição da Educação Ambiental para a Sustentabilidade Planetária", tendo como objetivo debater a contribuição da educação ambiental na construção de valores, bases culturais e bases políticas, que contribuam para a promoção de sociedades sustentáveis, bem como consolidar e ampliar a Rede de Educadores Ambientais Ibero- Americanos, expandindo a iniciativa de articulação e cooperação internacional para os países de lingua portuguesa.
Nos dias 06 e 07 foi realizado o Simpósio de Países de Lingua Portuguesa no qual foram discutidas estratégias comuns e aproximações para implementação de políticas nacionais de educação ambiental, no qual foi apresentada a experiência dos países africanos, do arquipélago
do Cabo Verde e de Timor Leste.
Realizou-se também o Encontro dos Educadores Ambientais da Bacia do Rio São Francisco de modo a articular os atores locais e governamentais que atuam em educação ambiental no âmbito da bacia do rio São Francisco e para a formação de uma Rede de Educação Ambiental do São Francisco.
Durante o encontro reuniram-se 26 grupos de trabalho, em que foram discutidos aspectos da educação ambiental relacionados à economia solidária, turismo, universidades, organizações não governamentais, empresas, comunidades indígenas entre outros.
Como parte integrante do Congresso foram oferecidos diversos mini cursos objetivando ampliar o debate e a implementação da educação ambiental.
Paralelamente ao V Ibero ocorreu a Feira de Tecnologias Ambientais e Experiências de Economia Solidária rumo à Sustentabilidade, onde foram apresentadas tecnologias eco-eficiêntes para empresas com experiência em comércio justo e economia solidária, além da venda e lançamentos de livros, no contexto da sustentabilidade.